“… Moro em Jaçanã, se eu perder este trem, que sai agora às onze horas… Só amanhã de manhã…”
Todos conhecem este famoso refrão da música “Trem das Onze” do grupo Demônios da Garoa de autoria de Adoniran Barbosa. Mas, o que poucos sabem, é que, com o dinheiro que ganhou com esta música, reformou sua casa na Vila Inglesa, na região da Cidade Ademar, onde morou 27 anos, de 1955 a 1982, ano de seu falecimento.
Adoniran chegou ao bairro em 1955 quando adquiriu o terreno de dois lotes na Rua Coronel Francisco Júlio Cesar Alfierri, número, 406, conhecida como “Rua da 43”, em ao 43° Distrito Policial que fica na mesma rua. De acordo com seu sobrinho, Sérgio Rubinato, o imóvel foi adquirido com o seu primeiro sucesso “Saudosa Maloca” do mesmo ano.
Muitos sucessos da carreira de Adoniran e os Demônios da Garoa foram composta na Vila Inglesa, hoje pertencente à região da Cidade Ademar. De acordo com Rubinato, que também trabalhava para Adoniram, o músico nunca morou no Bixiga, Brás ou no Jaçanã. De Santo André, mudou-se para o centro de São Paulo, na Rua Aurora, 595, em um apartamento no prédio São Martino. “Quando ele mudou para a Vila Inglesa, frequentava muito sua casa, era um terreno de dois lotes. Com o seu primeiro sucesso Saudosa Maloca, em 1955, ele construiu uma edícula nos fundos. Só depois com o Trem das onze, 10 anos depois, conseguiu construir a parte da frente”, disse Rubinato.
O interessante é que todos os materiais de construção utilizados na obra de sua residência foram adquiridos em outro local histórico na região, na antiga Casa Palma (que hoje não existe mais), junto ao fundador da loja, com o Sr. Luigi Palma. “Adoniram comprou tudo lá”, relatou Rubinato.
Sérgio Rubinato informa também que várias composições de Adoniran podem ter sido criadas ali. Já famoso, não recebia muitas visitas. “Meu tio tinha aversão às pessoas famosas, tinha muita restrição às pessoas que frequentavam sua casa. Ele não misturava a sua vida profissional com a vida particular. O mais assíduo era o músico Carlinhos Vergueiro, que foi seu parceiro de composições como ‘Torresmo à milanesa’ ”, relatou.
Trabalho e Parceria – Sérgio Rubinato que também mora na região, próximo à Casa Palma, foi muito mais que sobrinho de Adoniram, foi parceiro de trabalho em todas as suas fases. “Fui motorista, operador de som, segurança, todo o tipo de serviço em apoio ao meu tio. Muitas vezes fomos aos shows com os Demônios da Garoa, eu e meu tio no banco da frente e a banda no bando de trás”, relembrou.
Vida e Obra – Adoniran Barbosa (1910-1982) compôs inúmeras músicas, sendo uma das mais famosas “Saudosa Maloca” e “Trem das Onze”, que é mais uma de suas músicas que retrata o cotidiano das camadas mais pobres da população urbana.
Adoniran Barbosa nasceu em Valinhos, no interior de São Paulo, em seis de agosto de 1910. Filho de imigrantes italianos, Ferdinando e Emma Rubinato. Ainda jovem, mudou-se com a família para Jundiaí. Em 1924 mudam-se para Santo André, no ABC, onde começa a trabalhar para ajudar a família. Com 22 anos vai para São Paulo onde se emprega como vendedor de tecidos.
Na capital, participa de programas de calouros no rádio. Seu nome verdadeiro é João Rubinato, mas adota o pseudônimo de Adoniran Barbosa. Adoniran, nome de seu melhor amigo e Barbosa em homenagem ao cantor Luís Barbosa, seu ídolo. Em 1934, com a marcha “Dona Boa”, feita em parceria com J. Aimberê conquista o primeiro lugar no concurso carnavalesco promovido pela prefeitura de São Paulo.
Em 1941 é convidado para atuar na Rádio Record, onde trabalhou por mais de trinta anos como ator cômico, discotecário e locutor. Em 1955 compõe o primeiro sucesso, “Saudosa Maloca” (1951), gravado pelo conjunto Demônios da Garoa. Em seguida lança outras músicas, como “Samba do Arnesto” (1953), “Abrigo de Vagabundo” (1959) e a famosa “Trem das Onze” (1964), entre outras inúmeras obras. Atuou ainda na televisão e cinema.