Ser Cristão é seguir a Cristo. Este é o princípio do evangelho. Mas, a “onda” ultra-direitista relatada no livro Guerra pela eternidade de Benjamin Teitelbaum identifica três personagens, ligados à ascensão da chamada direita populista: Steve Bannon, Aleksandr Dugin e Olavo de Carvalho. O primeiro, profundamente vinculado ao presidente Trump, dos Estados Unidos, o segundo, ao presidente da Rússia, Vladimir Putin e o terceiro ao presidente Jair Bolsonaro, do Brasil.
Olavo de Carvalho teve influência direta na escolha de ministros de sua filiação ideológica no Governo Bolsonaro, como Ricardo Vélez Rodríguez, da Educação e Ernesto Araújo, das Relações Exteriores. O escritor relata que a busca religiosa ganha um novo contorno, por meio de inserção na vida contemporânea globalizada, no mercado de trabalho cada vez mais excludente, e acima de tudo, na busca pela ascensão social que não diz respeito somente ao ganho econômico, mas à toda uma construção ideológica sobre um imaginário econômico que promove a competição, criando assim, esquemas de pensamento de mercado.
Década Neoliberal – Diante deste contexto, as relações e o nível de sociabilidade, intensificam-se também as crises individuais e subjetivas. As formas de produzir e reproduzir a vida se diversificam, surgindo também novas formas de consumo material e simbólico, nas quais se envolvem as maneiras de experienciar a religião.
Esse cenário cria mudanças internas no campo religioso, como o surgimento de igrejas de diferentes denominações que passam a oferecer soluções para enfrentar os problemas pessoais decorrentes dos sacrifícios impostos à população pelas mudanças sociais ocorridas na “década neoliberal”.
Os indivíduos passam a procurar instituições que contemplem suas necessidades espirituais e as oriente diante da situação de precariedade social. A igreja então se apresenta como esfera simbólica da sociedade como produtora e ao mesmo tempo, este evangelho praticado por algumas igrejas pode se transformar em produto.
Muitas igrejas estão se submetidas à racionalização burocrática na qual envolve metas, estratégias, meios de maximizar seus benefícios e alcançar de forma eficaz seus objetivos. Neste novo pluralismo religioso, elas competem entre sí, temos exemplos de ter algumas ruas ou avenidas com mais de 5 igrejas, às vezes, uma ao lado da outra em uma maior diversidade de religiões, cuja competição acarreta em uma dinâmica de mercado que abrange uma complexa rede de relações e que oferta e possibilita diferentes formas de se relacionar com o sagrado na sociedade contemporânea.
As igrejas tradicionais, os evangélicos mais tradicionais e até mesmo a Igreja Católica, sempre promoveram em sua doutrina formas de atuação em grupo, visando o bem da comunidade. Diferente dos pentecostais e dos neopentecostais, cuja postura entra em choque diretamente com o novo comportamento da sociedade moderna, que cada vez mais individualiza e fragmenta as formas de sociabilidade.
Fundamentalismo religioso e perseguição aos pastores
O fundamentalismo religioso se caracteriza pelo apego à ideia de verdade absoluta. Para o fundamentalista religioso, a bíblia detém a verdade absoluta e essa verdade é incontestável, isso envolve desconsiderar toda e qualquer possibilidade de questionamento acerca da veracidade de um dogma, assim, como exclui a possibilidade de que a bíblia seja passível de diversas interpretações.
Interpretações estas, que podem variar de acordo com o contexto histórico e social. Em suma, o fundamentalismo religioso é a concepção que impede o pleno convívio entre as diferenças, sejam elas em relação à religião ou qualquer outra forma de visão de mundo, ou forma de existir no mundo que não esteja conforme uma determinada leitura da bíblia.
Nesse sentido, o fundamentalismo religioso por si só é uma concepção de mundo perigosa, no sentido que advém da ideia de imposição e controle de corpos e mentes. Porém, o fundamentalismo religioso aliado ao extremismo político passa a ser um posicionamento que ameaça à democracia e a liberdade de uma sociedade, uma vez que um encontra no outro bases necessárias para se desenvolver e se expandir, a fim de que se tornem a única forma de pensamento possível, excluindo e oprimindo todas as outras formas de pensar, e principalmente, impedindo a oposição.
A oposição é o que move o mundo. É isso que o fundamentalismo teme, é isso que a extrema direita teme e por isso pregam a conservação, a manutenção dos fatos, a verdade absoluta e incontestável, o dogma, recorrendo sempre à justificativa da “tradição” e apelando para a ideia de “preservação da família”.
Através da ideia de “preservação da família”, o monstro é alimentado. Quando o discurso da extrema direita mobiliza a ideia de que a família é sinônimo de tradição, e logo, faz parte dos interesses da direita, e a destruição da família é um projeto da esquerda, uma vez que a esquerda prega a transformação das antigas estruturas, clamando por um novo formato de sociedade, a ideologia é mobilizada.
É nesse sentido, que a religião, em específico, o fanatismo religioso, se alia ao campo político, mobilizando repertórios e construindo justificativas, se utilizando também de representações e interações sociais, forjando papéis na formulação de demandas, e acionando ações que mobilizam interesses particulares.
Por estas razões, pastores que não estão ancorados no padrão que dita o atual “poderio bélico – armamentista bíblico – “ que apoia esta nova e perigosíssima direita, estão sendo perseguidos, pois de acordo com a obra dita no inicio deste texto, Guerra pela eternidade , estão sendo julgados, cancelados como hereges, falsos profetas, enganadores, etc. Qualquer palavra mal interpretada, já há o cancelamento pelas redes sociais. Mas. Se o pastor for da determinada linha política, tudo bem. Poderia encerrar aqui citando dezenas de homens de Deus que estão sendo massacrados nas redes sociais por terem apoiado Lula nas últimas eleições, a única palavra que tenho a dizer a estes pastores é: obrigado. Parabéns por terem seguido o evangelho sem se venderem ao mercado!
Texto baseado nos artigos – Blog do Pedro Eloi e no texto: Evangélicos e Extrema Direita no Brasil: um projeto de poder, de Manuela Lowenthal Ferreira.